quinta-feira, 2 de junho de 2016

O iluminado: o livro de Stephen King sobre um Hotel sombrio querendo se iluminar




Você já viu o filme "O iluminado" de Stanley Kubrick, lançado mundialmente em 1980? Provavelmente sim... Quem não conhece o famoso poster do longa-metragem com a cara do Jack Nicholson enfiada na greta de uma porta? Aquele famoso semblante insano que aparentemente só Jack Nicholson pode reproduzir... Pois bem, você sabia que este filme é baseado no romance de Stephen King, também intitulado "O iluminado" (The Shining, no original)? Hoje o Rotina Reversa mergulhará nesta obra de um dos maiores mestres do terror da atualidade. 

 

Para quem não sabe, Stephen King é americano (Ohhh!!), e é por isso, óbvio, que quase a totalidade das histórias que ele escreve se para em algum lugar sombrio dos EUA, e olha que por lá lugares macabros é o que não falta.

Curiosamente os Estados Unidos possui a magia negra de produzir ótimos escritores de terror, visto que Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft são os papais do terror e também são estadunidenses.

Stephen King escreveu "O iluminado" em 1977, dois anos após o lançamento de seu primeiro romance, intitulado "Carrie, a Estranha", seu passaporte para a fama. King, contudo, não ficaria feliz de ser famoso, somente por conta de dois livros, então lançou, até o momento, 43 romances, dentre eles, "O coisa", "Cujo", "Christine", "Rose Madder" e "Sob a redoma", além de inúmeros contos e a notória série "A torre negra", lançada entre os anos de 1982 e 2012.

Mas porque, afinal, Stephen King é tão conhecido e prestigiado na comunidade do terror? Abertamente ele afirma ter se inspirado em Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, mas isto é um pouco óbvio para que conhece as obras desses autores. Então, lá vai o meu palpite: King consegue manter o clima de tensão necessária para classificar uma obra no gênero "terror". 



Apesar dos leitores reclamarem um pouco dos finais dos livros de Stephen King, os quais as vezes se mostram um pouco abruptos ou atrativos, não se pode negar que suas histórias são carregadas de tensão e apreensão sobre o que pode acontecer na página seguinte, aguçando a vontade do leitor para ler o livros de cabo a rabo.

Mas, especialmente sobre o livro "O iluminado", somente posso dizer: que livro emocionante e surpreendente!

Tive vontade de ler este livro, alguns anos atrás, por conta de reviews da internet que geralmente enalteciam a obra pela capacidade do autor de fazer com que o Hotel Overlook se tornasse uma personagem na história, e não simplesmente o local onde ela se passa. Isto me deixou muito curiosa, e, então, após ganhar o livro de presente não perdi tempo para começar a leitura.

Após ter lido essa magnífica obra, posso dizer que o Hotel Overlook não é uma personagem qualquer na história, pois é ele que realiza o papel importante de manipulação, com grande maestria, das demais personagens do livro, principalmente Jack, o novo zelador do hotel.


No filme, Jack Torrence, é interpretado por Jack Nicholson, o qual, a meu ver, conseguiu captar a essência da personagem. A insanidade de Jack é gradual, compatível com o tempo em que o mesmo vive (ou convive) no Hotel Overlook.

Mas você deve estar pensado: "Oras bolas, mas pra que raios um Hotel iria querer manipular o zelador"? Eu respondo: Jack tem um filho chamado Danny Torrence, e este menino é iluminado, ou seja, tem poderes sobrenaturais de se comunicar a longas distâncias com outros iluminados, de sentir o ambiente, prevendo coisas ruins e esse tipo de coisa. O Overlook é louco por poder, e, imagine só quanto poder o Overlook teria se Danny morresse em seu terreno; em seus "braços" o poder do iluminado, portanto, poderia descansar e, com isto, o poder do Overlook seria ainda maior sobre a mente das pessoas. 

Ou seja, Danny é o sonho de consumo do Overlook. O hotel precisa dele para ficar mais forte. Fazer com que seu poder lhe renda mais seguidores fiéis, e, com isto, o hotel poderá deixar de ser apenas "mal-assombrado" e ser realmente PODEROSO.

No filme não foi explorado um detalhe importante sobre Jack. Ele é alcoólatra, e durante uma bebedeira agrediu Danny sem querer. Ele jura de pé junto para Wendy Torrence, sua esposa, que foi sem querer, e a ida da família para uma nova morada temporária no Hotel Overlook não foi realizada somente pensando no dinheiro que Jack receberia como zelador, mas também para estreitar as relações de pai e filho / marido e esposa, além de um ótimo local para viver longe da bebida.

E é neste ponto fraco - o alcoolismo - que o Overlook se aproveita para manipular a mente de Jack. Ou seja, Jack, diferentemente de Wendy e Danny, é fraco, porque ele tem sérios problemas com a bebida, porém não admite isto para si mesmo, causando a desgraça na família.

Então, acredito eu, que o Hotel Overlook, após conhecer a nova família que ali viveria por alguns meses, pensou: "Como irei fazer para roubar o poder iluminado de Danny?". A resposta foi simples e cruel: usar o amor que Danny sentia pelo pai contra si, e a fraqueza de Jack com relação à bebida ("a Coisa Feia", como Danny costumava chamar) contra toda sua família.

Jack, contudo, não aceita ser a ponte. Ele quer fazer parte do Overlook. E é por isso que faz tudo o que o hotel manda. Quer conhecer tudo sobre o Overlook, chegando até a pensar sobre um livro. Essa é, eu acredito, a essência do livro: Jack é o Overlook! Com todas as suas forças e com toda a sua fraqueza.

Surpreendeu-me, no início, o imenso amor que os Torrence sentiam um pelo outro. Chamou-me a atenção a força de Jack para se ver longe da bebida. Tinha horas que me via lendo as páginas d'O iluminado esfregando a mão contra a boca, de tanto que Jack assim fazia, uma forma de "tique nervoso" que acabou por se acometido após ter que viver dias e dias ansioso pela falta da bebida.

Impressionei-me, também, com o modo como Stephen King escreve. O livro é todinho em terceira pessoa, mas o narrador alterna sua fala de acordo com o pensamento de cada personagem (Jack, Wendy, Danny e Hallorann - cozinheiro do Overlook, também um iluminado). Quando o narrador penetrava na vida de Wendy, por exemplo, o fazia não apenas contando o que ela estava sentido ou pensando, mas também como se fizesse indagações a personagem e interagisse com ela, como se o narrador fosse o inconsciente da própria personagem.


Este, definitivamente, não é um livro para se ler, e, automaticamente, se entender cada um de seus detalhes. Mas, com certeza, ao longo da narrativa, estes detalhes que, antes pareciam um pouco avulsos, acabam por se encaixarem perfeitamente ao longa da história. 

Digo isto porque a narrativa é construída, por muitas vezes, com base em muitas alucinações e sentimentos de culpa tão pesados, que acaba por gerar uma dúvida sobre o caráter da personagem, dando a esta quase que um coração dúbio, o qual mescla o bom e o ruim. Ou seja, é exatamente isto que torna as personagens tão humanas, visto que ninguém neste mundo é inteiramente bom ou totalmente ruim. Muito pelo contrário, somos uma avalanche de sentimentos confusos, como são Danny, Wendy e, principalmente, Jack Torrence.

Os problemas que Jack enfrenta são tão aterrorizantes para ele. Tanto, que ele chega a negar para si sua visível situação de impotência. O Overlook, por sua vez, fica atormentando Jack o tempo todo, lembrando-o do quanto ele é inútil e como tudo pode mudar se ele se juntar ao Hotel, servindo-o eternamente. 
 
Por exemplo, aplicar um bom corretivo em seu filho e na sua mulher seria uma ótima saída, de acordo com os insentivos do Overlook. Impor respeito, dar o remédio, gota por gota, assim como o pai de Jack fez com sua mãe. Inclusive, nestes momentos, a narrativa se torna por vezes nostálgica, trazendo à tona lembranças desagradáveis de Jack de seu pai espancando sua mãe, ficando claro, neste ponto, que a fraqueza de Jack não está só na bebida, mas também em sua estrutura familiar passada. Mais uma vez, com isto, Stephen King conseguiu dar a personalidade humana às suas personagens, causando-lhe dor e lembranças desagradáveis, como todo ser humano tem.

Jack, portanto, não aguenta as investidas do Overlook, e aos poucos aceita tudo o que ele impõe, tornando-se um escravo fiel. Este seria o "estopim" de sua insanidade; de sua vontade de matar sua família, algo que somente poderá ser barrado pelo poder de um iluminado.

Por fim, só tenho a dizer que o livro é maravilhoso. Um obra completamente diferente do filme, o qual deu outro viés à história, utilizando-se de características por vezes idênticas e por outras semelhantes.

Uma conclusão, contudo, posso tirar com certeza do livro: o amor fui fundamental para que se chegasse à loucura, mas também foi essencial para que se pudesse expulsá-la. Um poder extraordinário, que somente um iluminado poderia conter.

Até a próxima. 


2 comentários:

  1. Definitivamente este é um filme que vale a pena ver. É uma historia cheia de incríveis personagens e cenas excelentes. Mais que filme de terror, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. É um dos Stephen King filmes que mais gosto. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. Eu ainda não leio o livro, mas quero fazê-lo, com certeza vou gostar muito dele.

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    1. Olá! Concordo totalmente com você. Se você já gosta do filme, vai amar o livro, com certeza.
      Muito obrigada por seu comentário. Abraço!

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